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SAIBA COMO A PRÁTICA DE MINDFULNESS PODE SER ALIADA DA SUA SAÚDE MENTAL
Estamos em uma era digital onde vivemos conectados praticamente 24 horas por dia. São estímulos contínuos que têm gerado altos níveis de estresse e afetado diretamente a saúde mental das pessoas. Além disso, em 2020 enfrentamos um ano difícil e cheio de desafios. Mais do que nunca, é importante ter momentos de pausa e de reflexão. É nesse contexto que a técnica de atenção plena mindfulness ganha cada vez mais adeptos.
Para falar sobre esse tema, o blog da Keep Talent traz Danielle Wang, especialista em mindfulness e idealizadora da Flow of Life, uma Escola de Consciência Plena que promove o autodesenvolvimento, o bem-estar e o despertar da consciência.
Ela é a primeira entrevistada de uma série que estamos iniciando, onde o CEO da Keep Talent, Paulo Sérgio de Souza Correa, conversa com profissionais relevantes dentro da área de desenvolvimento pessoal e gestão de pessoas.
Danielle Wang é autora do livro “Consciência Plena – Empreenda com Mindfulness & Propósito”, onde relata a transição que fez de uma bem-sucedida carreira corporativa para um novo estilo de vida com mais propósito e apresenta também teorias, práticas e reflexões sobre mindfulness.
Paulo: Vivemos em um mundo de cada vez mais estímulos e cada vez mais estresse e dificuldade para parar e realmente se concentrar. Como conseguir se concentrar e praticar mindfulness em um dia a dia tão agitado? Por que é importante tirar esse tempo para si mesmo?
Danielle: Estamos de fato vivendo um mundo VUCA (sigla em inglês para volátil, incerto, caótico e ambíguo), cada vez mais complexo e hiper conectado. Exatamente por isso, é tão importante a gente fazer pausas. As pausas funcionam como um momento de repouso. Todo ciclo, toda natureza tem esses ciclos de expansão e contração. De verão e inverno, de maré alta e maré baixa, dia e noite. Só que nós, enquanto humanidade, estamos vivendo hiper conectados 24 horas por dia. As pessoas estão cada vez dormindo menos, cada vez ficando mais agitadas. Não se permitindo um repouso nem mesmo nas férias, onde continuam conectadas no celular, cheias de afazeres, com o tempo sempre preenchido. O mindfulness vem trazendo o que eu gosto de chamar de miniférias. São pequenas pausas que a gente vai tirando ao longo do dia, que fazem toda a diferença nesse refrescar-se. Que podem ser desde práticas de meditação, como áudios guiados que vão de uma média de 10 a 20 minutos. Porém, pra quem isso ainda é um desafio, pra quem ainda acredita em uma crença de que não tem tempo, pode ir encaixando pequenas práticas ao longo do dia. Podem ser práticas de três minutos, de apenas um minuto ou menores ainda, de apenas três respirações conscientes. Se uma pessoa conseguir parar e fazer três respirações conscientes várias vezes ao longo do dia, ou fazer uma meditação de um minuto todo dia, isso já muda demais o estado de estresse, de burnout e até mesmo de depressão. O simples fato de parar e contemplar a si mesmo, contemplar o momento presente simplesmente como ele é, sem julgamento, com aceitação, vai sendo como doses homeopáticas para ir cada vez mais, momento a momento, até se tornar uma prática contínua. O mindfulness é um estado de ser. Então, quanto mais a pessoa vai homeopaticamente inserindo esses momentos de presença ao longo do dia, mais dentro de um escopo maior ela está sendo presente. Mesmo que faça três minutos ao longo do dia. Depois, esses três minutos ao longo do dia vão se tornando cinco minutos. De repente, 10 minutos, 20 minutos. Quando vê, a pessoa já está incorporada desse estado de presença e consciência.
Fim de ano é natural que a gente repense o ano que passou e o que está por vir. Na prática promete-se muito e cumpre-se pouco. Qual segredo de uma reflexão que faça sentido e realmente ajude a ter um ano novo melhor?
Mindfulness não é teoria, é prática. Por mais que tenham livros e palestras que nos ajudam a ir adentrando nesse universo, o que realmente importa e impacta no mindfulness são as práticas, sejam elas formais, de meditação guiada, por exemplo, ou as nano práticas cotidianas. O segredo dentro do universo do mindfulness, vejo que são as novas atitudes do mindfulness e principalmente a atitude da mente de principiante. Ou seja, a gente se permitir mudar a perspectiva do modo como vê as coisas. Porque já temos um olhar viciado e isso cria hábitos condicionados, nos deixando no piloto automático. Paramos de perceber que fazemos aquilo já há tempos e que esse hábito já está tão incorporado que tomamos aquilo como normal. Por exemplo, tem gente que acha que é normal berrar com outras pessoas, mas isso é apenas sintoma de um estresse. Quando a gente tem a mente de principiante, começa a desenvolver esse olhar e falar: isso aqui não é normal. E como é que poderia ser diferente, feito de outra maneira. Então, começamos treinando, não através das emoções, porque às vezes é uma questão muito sensível pra lidar com o outro. Porém, a gente começa a trazer essas reflexões e observações, esse olhar de observador pra alguma coisa externa. Por exemplo, uma prática bem simples e que é muito profunda é trocar a mão e usar aquela menos dominante pra fazer as coisas cotidianas como escovar os dentes. Aqui já estamos neurologicamente remoldando o nosso cérebro para que comece a fazer as coisas de uma maneira diferente. Estamos criando novos caminhos neurais, novas sinapses, deixando de fazer alguma coisa que é tão piloto automático quanto escovar os dentes. E assim começamos a abrir caminhos, a abrir espaço neurológico de outras áreas do cérebro que não estavam sendo antes utilizadas. Por isso que no mindfulness nós temos várias dessas pequenas práticas, que aos poucos vão se fortalecendo, começando pelo fácil, pelo simples, pelo tangível, pelo aplicável. E a partir disso, vamos crescendo para metas maiores. Não adianta colocar três, quatro anos seguidos que quer emagrecer 10 quilos e continuar com os mesmos hábitos alimentares. Começamos com essas nano práticas de, por exemplo, trocar os talheres de lado, sentar-se num lugar diferente à mesa, substituir um pequeno alimento por outro. Não é do dia pra noite que a gente vai trocar totalmente a nossa alimentação pra deixar de comer açúcar, fritura e parar de tomar refrigerante. É uma pequena prática de cada vez. É uma garfada de cada vez. E isso é viver o aqui e agora. Porque se não a gente fica fazendo planos megalomaníacos para o ano, não consegue colocar nada em prática. Porque são justamente com esses passos intermediários e pequenos que vamos construindo essa mudança.
A revista Você RH fez recentemente uma capa onde colocou o título “O ano da saúde mental” e citou que sete em cada dez brasileiros estão com medo acima do normal devido à pandemia da Covid-19. E que essa vulnerabilidade acelerou uma tendência das organizações de cuidar do psicológico dos funcionários. Você poderia dizer como o mindfulness pode ser uma prática importante dentro desse processo de cuidado das empresas? Que benefícios ela pode trazer para as pessoas e consequentemente para as próprias organizações?
O mindfulness traz uma autoconscientização do que as pessoas estão ali vivendo. A partir do momento que a pessoa começa a praticar mindfulness, ela passa a desenvolver uma autoconscientização, ou seja, ela não está delegando a responsabilidade da saúde mental dela para um psicólogo, para uma terapia, para uma prática, para o marido, esposa, filho, chefe, seja lá para quem for. A pessoa começa a ganhar uma autoconscientização de como ela pode gerar esse autodomínio. Lógico que o autodomínio vem com o tempo, com a prática. Mas, pelo simples fato dela conseguir reconhecer quando aquele estado de preocupação ou de medo ou de depressão começa a emergir, ela mesma consegue tomar uma atitude em cima disso. Ela não fica dependente de nenhum tipo de terapia ou terapeuta. E isso pra mim é a grande chave do sucesso do mindfulness. Isso traz realmente a autorresponsabilidade e essa maestria que a pessoa vai desenvolvendo ao longo do dia. Ela não precisa esperar a semana inteira pra ir para um psiquiatra, por exemplo, pra poder falar sobre as questões que ela está vivendo. Ela já vai fazendo, percebendo e tomando uma decisão, que seja uma pequena escolha, que gosto de chamar de nano práticas, pra poder tomar uma atitude que vai ajudar a sair desse estado de doença mental.
Como as empresas podem oferecer mindfulness para seus colaboradores? Isso é possível tanto para quem está no trabalho presencial como para quem está sozinho no home office?
Existem desde as formas mais superficiais, como palestras e workshops, que são pontuais, quanto ações que visam um pouco mais o médio prazo, de fato, para ajudar as pessoas. Eu não vejo que uma palestra ajude as pessoas. Ela põe as pessoas pra refletirem, dá uma pequena conscientização do que pode ser, porém, mais do que isso, o que importa mesmo dentro do mindfulness não é a teoria, mas sim a prática. Então, ajudar as pessoas a colocarem em prática a meditação, as pequenas dicas que vão sendo inseridas, checadas e verificadas ao longo da semana, isso é que vai trazer essa mudança dentro da empresa. Uma mudança real e sustentável. Pode ser desde os cursos de oito semanas, esse é o formato clássico e tradicional em mindfulness, desde o programa raiz que se chama MBSR (Mindfulness-Based Stress Reduction), criado nos Estados Unidos por Jon Kabat-Zinn, o grande sistematizador do mindfulness, até outros modelos, como por exemplo, as práticas semanais de meditação de meia hora. Aqui pelo Flow of Life venho desenvolvendo uma metodologia onde através de self-assessments e estudos de frequências cerebrais, neurológicas, conseguimos mensurar como está a saúde mental das pessoas. Fazemos um acompanhamento das pessoas durante e depois do programa. A ideia é realmente ter aqui um programa que vai se aprofundando dentro dessa cura, desse cuidado ou acompanhamento com os funcionários. Não fazendo apenas alguma coisa que seja pontual e superficial. Isso funciona tanto para quem está presencial quanto para quem está no home office. Durante o lockdown, dei muitos cursos para as empresas via as plataformas digitais, com uma adesão muito boa. Assim como tudo, são coisas que levam um certo tempo. Então no começo, há uma adesão melhor e com o tempo vão ficando as pessoas que estão se engajando e sentindo mais a transformação. Porém, mesmo que a pessoa fique um ou dois meses, aquilo de alguma maneira já começa a ter um impacto cognitivo, neurológico, do que ela está aprendendo e está sendo plantada uma sementinha pra ir percebendo ao longo do dia como ela está reagindo de acordo com as situações.
Você poderia citar alguns exemplos de empresas que adotaram essa prática e tiveram bons resultados?
Internacionalmente tem várias empresas que estão nessa mudança, já adquirindo essa cultura, como Google, GM e até o exército norte-americano. Dentro do contexto brasileiro, a Flow of Life deu cursos para empresas como Siemens, DuPont e Banco C6. A Vivo tem sala de meditação e a Salesforce também tem um programa de meditação lá dentro. E ainda centros de saúde e hospitalares como o Hospital Albert Einstein e o Sírio-Libanês, que são duas referências de centros médicos. E lá fora, inclusive várias universidades estão adquirindo e implementando, como por exemplo, Harvard e MIT.
Se a pessoa quiser começar a praticar mindfulness por conta própria, qual seria um caminho para ela iniciar?
Pra quem quer começar a praticar mindfulness por conta própria, tem vários caminhos. Os aplicativos hoje tem ajudado bastante com as meditações guiadas, porém, existem várias dicas que não são oferecidas através desses áudios. Às vezes, as pessoas que começam a ouvir esses áudios também acreditam que não conseguem, porque fica a mente viajando. Então, fazer um curso, um programa de oito semanas, aquele programa tradicional, é um caminho maravilhoso pra começar. Porque os áudios estão ali, estão fáceis, disponíveis, muitos deles são gratuitos, porém, ter o acompanhamento de um especialista ajuda, porque surgem dúvidas. A mente é complexa, ela passa por algumas questões. Nós temos inúmeras autossabotagens, então ter esse direcionamento de professor e acompanhamento é muito importante. Existem também diversos livros sobre o assunto, como por exemplo o Atenção Plena, do Mark Williams, que é maravilhoso e indico. Porém, mais importante do que tudo, o mindfulness não é a teoria, mindfulness é prática. E não é apenas prática de áudio guiado, existem várias técnicas e dicas que nos ajudam a implementar esse estado de atenção plena no nosso dia a dia. É um estado de ser. A meditação guiada vai te ajudar a atingir esse estado de ser. Mas não é só isso que te ajuda nesse estado mental. É mais do que isso. São essas nano práticas que a gente faz ao longo do dia. São as práticas informais, são as reflexões, todo acolhimento, aceitação, em relação às emoções desafiadoras que emergem no meio do caminho. Tudo isso vai construindo essa composição que somos, esse caleidoscópio.
Você lançou o livro “Consciência Plena”, poderia citar alguns benefícios práticos que as informações que estão no livro podem trazer para a vida das pessoas?
O livro está recheado de exemplos práticos pra gente colocar no dia a dia. Ele está separado em quatro grandes seções. Uma seção é onde conto a minha história, uma narrativa onde a pessoa pode se inspirar. Eu fui uma executiva de planejamento financeiro e estratégico de grandes empresas de serviços financeiros. Decidi sair quando estava no ápice da carreira corporativa, assumindo grandes áreas, assumindo grandes responsabilidades. Mas realmente por uma busca pessoal. Eu conto essa minha história de transição. De tirar um sabático, que foi um período de dois anos, e dar essa mergulhada em autoconhecimento. Na segunda parte, cada capítulo tem duas partes, de teoria de temas que podem ajudar, desde, por exemplo, falar sobre a fisiologia do corpo ou apresentar o mindful eating, alimentação consciente, ou os desafios durante uma meditação. Falando sobre a nova economia, a liderança consciente, sobre a escuta empática, a comunicação consciente, como que a gente pode conseguir conversar com mais autodomínio. Na terceira parte estão as práticas em si, tanto aquelas formais quanto as informais. E a quarta parte com reflexões, para que as pessoas possam parar e refletir sobre questões bem profundas, que às vezes estão ali em um ponto cego. Sobre as quais nunca parou pra pensar ou nunca parou pra olhar nessa perspectiva.
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